Nathália Sampaio
Herbert Timóteo
De tempos em tempos, a
humanidade é desafiada a lidar com alguma situação cujo controle lhe escapa.
Uma catástrofe se abateu sobre o mundo no ano de 1918. A gripe espanhola, que
de espanhola não tinha nada, foi a grande pandemia que se abateu sobre o mundo
no século XX e, em muitos aspectos se assemelha à atual Covid-19. Essa pandemia
teve início no ano de 1918 e ocorreu em três ondas, no período de um ano e
meio. Convidamos nosso leitor a acompanhar a história daquela que ficou
conhecida como a grande gripe e perceber que muitos erros do passado ainda se
repetem na atualidade.
A doença não surgiu na
Espanha, apesar de ter recebido o nome de “gripe espanhola”. Como o pico da
contaminação ocorreu durante a 1ª Guerra Mundial, os países envolvidos
censuravam notícias sobre o número de mortos, para evitar pânico entre as
tropas e consequente diminuição de seu poder ofensivo. Uma vez que a Espanha
não participou da guerra, mantendo-se neutra no conflito, os jornais do país
tinham liberdade para publicar sobre a epidemia. Com a divulgação de um número
alto de casos na Espanha, logo o país passou a impressão ao mundo de que lá
teve origem a doença, daí o nome “gripe espanhola”.
Entre os anos de 1918 e
1919, o vírus matou mais de 50 milhões de pessoas no mundo, atingindo todas as
camadas sociais. Vitimou o presidente eleito do Brasil na época (Rodrigues
Alves), o poeta Olavo Bilac e até o avô do presidente norte-americano Donald
Trump. O deslocamento das tropas durante a Primeira Guerra ajudou a disseminar
a doença. Entretanto, os navios de mercadorias e dos correios fizeram com que o
vírus chegasse a quase todos os lugares do mundo. As cidades litorâneas foram
as que apresentaram maior número de mortos.
A origem não é totalmente
conhecida, mas os primeiros casos divulgados foram em militares americanos. No
Brasil, o vírus chegou por um navio inglês Demerara, que fez várias paradas nos
portos brasileiros e trazia pessoas doentes. Foram cerca de 35 mil mortos. Os
recursos tecnológicos da época eram limitados: não havia microscópios
apropriados para análises das amostras colhidas dos pacientes, tampouco
antibióticos para as infecções secundárias. Atualmente sabe-se que a doença é
causada por um vírus do tipo Influenza - semelhante ao H1N1- e que sofreu
mutações, passando de aves para humanos.
A gripe foi subestimada pelos governos - inclusive o brasileiro - o que retardou o combate rápido. No início, era tida como doença de velhos, mas o maior número de vítimas foram os adultos de 20 a 30 anos, principal força de trabalho na época. Há quem diga que a flexibilização dos contratos de trabalho acarretou a demissão em massa, o que levou as pessoas para as ruas em busca de emprego, o que acelerou o contágio.
O
sistema de saúde entrou em colapso rapidamente e medidas emergenciais tiveram
que ser tomadas. Isolamento social, proibição de aglomerações, uso de máscaras,
construção de hospitais de campanha e incentivo ao uso de veículos particulares
eram prática incentivadas no mundo todo. Escolas, igrejas e repartições
públicas foram fechadas e os campeonatos de futebol adiados. As famílias ricas
se isolaram nas fazendas, enquanto o restante da população aglomerava-se nas
cidades.
O grande número de doentes e de mortos revelou que nenhum país estava preparado para epidemias desse porte. No Brasil, não havia caixões e nem coveiros suficientes para realizar os enterros. Os corpos eram deixados nas ruas e até os presidiários foram convocados para realizar os enterros. Como não havia hospitais públicos, as pessoas eram atendidas nas Instituições de Caridade, nas Santas Casas, nas unidades Cruz Vermelha e até nas delegacias. Neste contexto, os governantes perceberam a necessidade de estruturar os Sistemas de Saúde o que, no Brasil, lançou as bases para a criação do Ministério da Saúde em 1930.
As pessoas eram medicadas
para o alívio dos sintomas, os quais incluíam dor de cabeça aguda, febre alta,
calafrios, tosse seca, dores no corpo, diarreia e cansaço. Os casos mais graves
evoluíram para falta de ar e cianose (escurecimento das extremidades). Dada a
sobrecarga dos hospitais, pacientes que apresentavam os pés “escuros”,
raramente eram atendidos, pois dificilmente sobreviveriam. Surgiu um boato
de que hospitais serviam um chá para os doentes graves o que lhes acelerava a
morte para que os leitos fossem desocupados rapidamente.
Surgiram muitos remédios “milagrosos”, os quais esgotaram-se nas farmácias, a maioria deles sem efeito algum: produtos a base de quinino, fórmulas com canela e gargarejos. A caipirinha, tradicional drinque brasileiro, teria surgido também como um remédio para o tratamento da gripe.
Tão rapidamente como surgiu e se espalhou, a gripe teve fim: cerca de 70% da população dos países atingidos teve contato com o vírus em pouco mais de um ano, o que permitiu o status de imunidade coletiva.
Assista a esse pequeno vídeo sobre a gripe espanhola
Muito interessante todos esses dados, ainda mais pela semelhança com o momento atual. Será que temos dados de como foi o comportamento das pessoas no período pós pandemia? Do contato humano, aglomerações? E como foi a recuperação da economia neste período?
ResponderExcluirParabéns pelo blog.
Juliana Flores.
Uma das informações que conseguimos foi que a segunda onda aconteceu em sequência ao término da Guerra, pois as pessoas confundiam o fim da guerra com o fim da pandemia e saíram às ruas. Daí o contágio aumentou rapidamente.
ExcluirOutro grande problema foi que as pessoas não tinham muitas informações a respeito da epidemia, por questões políticas. Os meios de comunicação não falavam muito sobre o assunto. Na maioria das vezes as notícias eram deturpadas, passando uma falsa imagem de segurança. O que se sabe é que a imunidade de rebanho foi atingida rapidamente.
ResponderExcluirEi, Juliana, obrigado pelos comentários. Com relação a sua questão, como Nathália relatou, houve a imunidade de rebanho, já que o número de contaminados foi enorme, assim como a mortalidade. Vamos pesquisar dados sobre a economia para te responder. O mundo já estava combalido com a guerra, o que por si só já dificultaria a reação econômica. Mas até por causa da guerra o Brasil aumentou a produção industrial com o objetivo de suprir o mercado europeu já que as indústrias europeias levaram tempo para se reerguer.
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